Minha amiga Jane ligou bem cedo, hoje de manhã, curiosa sobre o encontro de blogueiros científicos em Língua Portuguesa, no fim de semana, em Arraial do Cabo. Foi bom?
Há muitos anos não participo de um encontro tão informal, estimulante e divertido.
Começou na sexta-feira, com uma palestra sobre Ciência e Culinária, de Milton Moraes, Confraria da Boa Companhia, que deve ter sido deliciosa. Mas eu tinha compromisso no Rio e não pude ir.
Cheguei no sábado de manhã, já no meio da fala da Sonia Rodrigues, do sei mais física, mas ainda deu para saber das dificuldades que ela enfrenta ao incentivar jovens de periferia, com inteligência acima da média, a entrar na universidade. Os alunos carecem de recursos para transporte e para usar o computador nas lan houses, o que é indispensável para cumprir o programa proposto.
Perdi a palestra do Mauro Rebelo, do Você que é Biólogo, organizador do evento. Uma pena. Queria muito conhecer as dicas para escrita criativa em ciências.
A palestra do Carlos Cardoso, o primeiro blogueiro profissional que já tive o prazer de conhecer, foi muito engraçada. Ele afirmou que é possível ganhar algum dinheiro com blogs e contou como fazer para atrair paraquedistas, aumentar o fluxo ao blog e acumular uns tostões com banners, posts pagos, links patrocinados, comissões, consultoria. Bons conselho$.
O administrador do ScienceBlogs Brasil, Carlos Hotta, do Brontossauros no meu jardim, falou sobre a experiência compartilhada no novo conglomerado virtual. Ele informou que serão abertas inscrições para acesso ao condomínio, mas sugeriu outras iniciativas de união de blogs por conteúdo. O Science Blogs Brasil reúne 29 blogs, com 31 blogueiros super ativos – com muitos posts originais e bem escritos – critérios indispensáveis para a aceitação no grupo.
Depois do almoço e do check-in na simpática Pousada do Capitão, foi a vez de Osame Kinouche, do SemCiência, contar que existem cerca de 250 blogs científicos ativos. Uma festa pra quem tem tempo de navegar e gosta de ler sobre ciência.
A essa altura do relato, minha amiga Jane perguntou, como já o fez Caetano: caramba, quem lê tanta notícia?
A falta de hierarquia, controle ou regulação no meio virtual foi abordada na palestra de Leandro Tessler, do Cultura Científica, com o título Anti-ciência. Não entendi direito, mas fiquei com a impressão que ele advoga algum tipo de controle social da blogosfera, para evitar criacionismos, fundamentalismos, charlatanismos e outros ismos. Uma idéia que não combina com o território livre da Internet.
Ildeu Moreira e Luiza Massarani não apareceram no encontro. Por isso, a apresentação do Bernardo Esteves, da Ciência Hoje on line, prevista para domingo, foi antecipada. Bernardo citou a máxima do Marcelo Leite: o papel do jornalismo em ciência é tornar interessante o que é importante e não tornar importante o que (só) é interessante. Ele também anunciou uma iminente reforma no site do CH on line. Uma ótima notícia. Estava mesmo precisando.
O domingo foi reservado para a discussão de quem deve divulgar a ciência: os cientistas ou os jornalistas. Suzana Herculano-Houzel, A Neurocientista de Plantão, e Alessanda Carvalho, do Karapanã, ofereceram argumentos diferentes para reafirmar que a divulgação científica deve ser feita, e bem feita, por todos.
Chegou a minha vez de falar e eu nem fiquei muito nervosa. Mostrei um monte de vídeos e meus dados de acompanhamento da ciência na televisão. Acho que o pessoal gostou, especialmente da comparação entre o total de horas dedicadas por semana à ciência: 8h30 e à religião: 190 horas.
Maria Guimarães, da Revista Pesquisa, da FAPESP, contou como um cientista decide o que pesquisar e como um jornalista decide o que publicar. A estética e o método. A síntese que me ocorre é: paixão.
A última palestra foi feita pelo Fábio Almeida, do Ciencine, e trouxe a contribuição da ciência na criação do cinema. Ótimas imagens da pesquisa sobre o movimento com animais e pessoas. Teria o cinema sido inventado por um biólogo? Mas o ponto alto da palestra foi a exibição de um depoimento do precursor da divulgação científica no Brasil, o mestre José Reis. Pura emoção!
Ano que vem, estarei lá, em Sampa. Me aguardem!